terça-feira, 2 de outubro de 2007

Banda larga pela rede elétrica: o Brasil quer fazer parte

Presidente da Aptel detalha, em entrevista exclusiva, projeto das "vilas digitais", que vai levar a tecnologia a localidades om até 50 mil habitantes, de forma gratuita.
é um assunto novo, mas ainda não encontrou seu caminho como modelo de negócios no Brasil. A chegada da tecnologia como alternativa para cabos, satélites ou fios de cobre parece, no entanto, só uma questão de tempo.
Pedro Luiz Jatobá, presidente da Associação de Empresas Proprietárias de Infra-estrutura e Sistemas Privados de Telecomunicações (Aptel), antigo defensor da tecnologia, explica, nesta entrevista exclusiva, o projeto das "vilas digitais", que vai levar a opção de banda larga a populações carentes do País, de forma gratuita, como forma de embasar a criação do plano de negócios e colocar o Brasil definitivamente na rota da web pela rede elétrica. Acompanhe.

cw – Como surgiu o projeto das vilas digitais?
Pedro Luiz Jatobá – Já tivemos vários testes da tecnologia nas condições brasileiras. Em Barreirinhas (MA), por exemplo, houve um teste com apenas três pontos (uma escola, um centro de artesanato e a Secretaria de Saúde municipal) em abril de 2004, durante seis meses.

Apesar de pequeno, esse teste foi bastante significativo do ponto de vista do desempenho. Como um estudo da Telebrasil mostrou que municípios com até 50 mil habitantes têm pouco acesso a serviços de telecomunicações, focamos nosso objetivo nessas pequenas comunidades.

As vilas ou cidades digitais serão o campo experimental no qual a população vai usar a web pela rede elétrica gratuitamente, por dois anos, e fornecer os subsídios para a criação do modelo de negócio. Serão quatro campos de testes em diferentes regiões do país onde esta tecnologia será testada, em conjunto com outras, para atendimento das demandas locais por serviços digitais de comunicação e informação.

CW – Que outras regiões receberão o serviço, além de Barreirinhas?
Jatobá - A cidade agroindustrial de Candiota, no Rio Grande do Sul, também será palco de projeto semelhante, enquanto Pirinópolis, em Goiás, estuda adotar. A Eletropaulo também avalia em que região de São Paulo pode testar a tecnologia. Em São Paulo, inclusive, a empresa de energia já implantou o PLC em um condomínio popular, para otimizar a medição do gasto de energia, mas não se interessou em explorar o outro negócio possível – o do acesso à internet. Na época, eles poderiam ter levado banda larga a todas as residências do condomínio.

CW – Há muito tempo se fala na opção de acesso à internet pela rede elétrica. A tecnologia tem evoluído com o tempo?
Jatobá – Sim. A tecnologia já é hoje muito diferente da que foi usada nos primeiros testes, anos atrás. Hoje ela já permite conexões a velocidades de até 200 Megabits por segundo (Mbps). Na verdade existem duas designações de origens diferentes: o padrão americano designa a tecnologia como BPL (Broadband over Power Line) e o padrão europeu rotula a mesma como PLC (Power Line Communication).
Hoje, inclusive, a Telefônica, na Espanha, utiliza o PLC em seu serviço de TV via web (de nome comercial Imagenio). O mundo todo está trabalhando nisso. No Texas, por exemplo, a IBM recentemente assumiu o papel de integrador em um grande projeto de PLC.

CW - Como podemos comparar a web pela rede elétrica com outras infra-estruturas, como DSL e cabo?
Jatobá – Existem vários critérios de comparação. Em termos de velocidade de conexão, a tecnologia PLC é mais rápida que satélite, rádio, cabo, DSL ou fibra óptica. Em termos de custo, o PLC é também mais barato do que os demais. Ele tem, no entanto, risco de interferência, conduzida e irradiada, e variações de impedâncias, de acordo com a topologia do lugar.

CW - Mesmo que o modelo de negócios não esteja claro, o senhor acredita que se trate de uma alternativa interessante economicamente?
Jatobá - Tudo indica que sim. Principalmente em países como o Brasil, com escassa infra-estrutura de telecomunicações convencional e vasta extensão territorial.

CW – Que peculiaridades do mercado brasileiro facilitam a adoção dessa infra-estrutura?
Jatobá - Uma vasta extensão territorial, o que amplia o custo de adoção de tecnologias wireless, escassez de infra-estrutura de telecomunicações convencional (rede telefônica e TV a cabo) e uma alta capilaridade da rede elétrica , que atinge 97% dos domicílios e chegará a 100% com o Programa Luz Para Todos do governo federal.

CW – Ainda que o modelo não esteja claro, quem deve atender o usuário final em um serviço como esse?
Jatobá – A própria empresa de energia dá o suporte ao usuário. Como, no entanto, internet não é o negócio dessas companhias, a idéia é atrair provedores de acesso para parcerias. Nosso desafio é descobrir como transformar essa alternativa em um negócio viável e interessante tanto para as empresas de energia como para os provedores.

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